Todo procedimento cirúrgico pode apresentar intercorrências relacionadas ao ato anestésico, à cirurgia em si ou ao pós-operatório. Essas situações não são consideradas erros, como muitos acreditam, mas eventos estatisticamente esperados nos tratamentos médicos.

Eles ocorrem mesmo que todas as medidas de prevenção sejam adotadas e todos os cuidados, por mais refinados que sejam, sejam tomados tanto pela equipe médica quanto pelo paciente. Isso se deve ao fato de a medicina não ser uma ciência exata, e intercorrências podem ocorrer no tratamento de enfermidades.

Algumas complicações são comuns a qualquer procedimento cirúrgico, enquanto outras são específicas de cada tipo de operação ou da doença propriamente dita. Essas intercorrências ocorrem em taxas muito baixas e não representam motivo para temores no dia a dia. Conhecer esses possíveis eventos auxilia na sua prevenção e no tratamento precoce, evitando o agravamento da situação.

A seguir, citaremos algumas intercorrências comuns, com a descrição de alguns sinais e sintomas clássicos, além de medidas para prevenção e eventual tratamento.

Intercorrências Comuns em Cirurgias

Infecção Pós-operatória

A infecção pós-operatória, ou rejeição, é a contaminação da cirurgia por micro-organismos que infectam a região da operação, provenientes do ambiente hospitalar (infecção hospitalar) ou do próprio paciente. Essa situação pode acarretar dor e comprometer a durabilidade do implante. Muitos dos germes produzem pus, e o paciente pode apresentar dor intensa, drenagem de secreção pela cicatriz, febre, vermelhidão e calor no local da cirurgia.

A prevenção é feita com antibióticos e medidas de higiene local. A ausência de processos infecciosos à distância, como infecção urinária, cáries e feridas na pele, também é importante. Quando a infecção ocorre, o tratamento pode variar conforme o tempo de aparecimento dos sintomas, identificação do micro-organismo e tipo de cirurgia.

Dois tratamentos clássicos são a cirurgia de limpeza com o uso de antibióticos (tratamento supressivo) e a retirada dos implantes com a colocação de espaçadores no local temporariamente, para depois colocar-se uma nova prótese (revisão em dois tempos).

Trombose Venosa Profunda

A trombose venosa profunda (TVP) é a formação de coágulos sanguíneos que obstruem os vasos sanguíneos, impedindo o fluxo de sangue de volta ao coração. A perna do paciente pode ficar inchada, dura, dolorosa, quente e avermelhada. O inchaço mole da perna sem dor é comum e não deve ser confundido com o da trombose.

A importância da trombose reside em comprometer a reabilitação e poder causar embolia pulmonar (evento raro). A prevenção pode ser realizada com a movimentação precoce dos membros inferiores, o uso de dispositivos mecânicos de compressão pneumática e medicamentos. O diagnóstico é clínico e por meio do Doppler de ultrassom.

Específicos da Prótese de Quadril

Luxação

A luxação é o deslocamento da prótese, que sai do lugar, causando dor intensa e perda de movimento da articulação. Geralmente ocorre por acidente ao sentar-se em cadeiras baixas, cruzar as pernas ou agachar-se. O tratamento consiste no reposicionamento da articulação ao puxar a perna sob anestesia ou sedação.

Soltura da Prótese

A soltura da prótese pode nem ser considerada uma intercorrência, se levarmos em consideração que todo implante tem sua vida útil. A maioria das próteses tem durabilidade superior a 10 anos. A soltura precoce, geralmente em menos de 5 anos, necessita de investigação para determinar as possíveis causas.

Discrepância de Comprimento do Membro Inferior

O comprimento do membro inferior pode ser alterado, geralmente para maior. Pequenas diferenças podem não ser percebidas, mas, quando causam desconforto ou alteração estética ao caminhar, palmilhas de compensação podem ser usadas dentro dos calçados.

Específicos das Fraturas (Fêmur, Pelve ou Acetábulo)

Pseudoartrose: ocorre quando o osso não cicatriza adequadamente.
Artrose pós-traumática: desgaste acelerado da articulação após uma lesão.
Consolidação Viciosa: acontece quando o osso cicatriza fora da posição natural.

Essas intercorrências podem acontecer, mas não são frequentes. Informações detalhadas devem ser obtidas com o médico responsável pelo seu tratamento.